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Mostrando postagens de 2014

Peripécias de uma gota

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A menina debruçou a cabeça. Lágrimas verteram de seus olhos. Tentou detê-las com a mão. Teimosamente, uma rolou pela face e quedou-se em seu queixo, já transformada numa Gota. - Menina, não me deixe, gritou a Gota. Desesperadamente, agarrou-se em seu lábio. Não resistiu. Caiu rendida ao próprio peso. Na água, formou-se um pequeno circulo, outro e mais outro. Ela afundou por dentro de leve rodamoinho. - Oi, você é nova aqui? Ouviu alguém perguntar. - Sim, acabei de chegar, respondeu assustada e tiritando de frio. - Como entrou aqui? Você não é de chuva...Falou a vozinha, curiosa. - Ai, ai, cai dos olhos da menina, reclamou a Gota, sentindo uma leve lambidinha. - Ei, você é diferente mesmo, tome cuidado, aqui dentro alguns seres vão adorar o seu gostinho salgado... A Gota afastou-se sofregamente e perguntou confusa: - Onde estou e quem é você? - Nós estamos no espelho D’Água. Neste pedaço a água não corre, sorte sua, senão teria sido engolida. Eu sou o Giri...

Castanho

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história Parado no meio-fio da calçada fui alertado pela presença da senhora que atravessando a rua, parou ao meu lado. De soslaio observei que atentamente me esquadrinhava. Não mexi nenhum músculo para não assustá-la. Certa de que eu não a estranhava aproximou-se e me tocou. Aceitei que sua mão pousasse em meu focinho. Lentamente deslizou-a até o meu dorso e sussurrou: - A sua figura, imperturbável chamou-me atenção, também a sua imponência, como mantém a sua cabeça alta, o brilho dourado do seu pêlo à luz do anoitecer, posso sentir a sua força interior que está além da aparência das dores e privações que parece ter suportado. Essa velha carroça repleta de papelões e quinquilharias ao qual está atrelado, não lhe é adequada, mas você a embeleza. Dá uma característica de nobreza a esse trabalho rude e inspira à visão de uma obra de arte a ser retratada. Comovido, eu a segui com os olhos até perdê-la de vista. Imagens da minha vida começaram a me aparecer como um filme. Lembro de ...

Mãos

A bela senhora atravessou a rua. Já na calçada, vê o simpático homem que lhe vem firmemente ao encontro. - Maria como vai ? - João, querido amigo, que surpresa agradável. Não nos vemos há muitos anos ! Abraçam-se , com espontaneidade de amigos antigos. -Continuo a trabalhar no exterior. Estava tão saudoso que decidi aproveitar uns dias da minha viagem de negócios para vir rever minhas raízes. Foi ótimo encontrá-la. Que tal fugirmos deste barulho e conversar mais a vontade, tomando um cafézinho ? Ela aceita o convite. Entram numa agradável cafeteria. As mesas estão cobertas com toalhas de renda e os pães, bolos e doces expostos estimulam a intimidade, a cheiros de infância e de café com leite em família. Aquela atmosfera peculiar e apropriada, estimulou a velha amizade que floresceu. Trocam confidências de ontem e de hoje. Vão relembrando sonhos adolescentes sonhados juntos , tristezas divididas, alegrias compartilhadas... Os últimos raios de sol descem no poente. Chega a ...

Doroti

Novembro de 1948. Doroti completava 12 anos. à primeira vista, onde entrasse , chamava atenção pelo porte exuberante, a pele muito branca,contrastando com os cabelos lisos e compridos. Era a visão de mocinha bonita, no frescor da adolescência saudável. Grandes olhos verdes destacavam-se em seu rosto . Tinha um brilho intenso , mas o que mais atraia era o jeito de olhar profundo, surpreendente para quem a olhasse olho no olho. Parecia querer tocar o íntimo da pessoa que as vezes sentia certo desconforto, como se aquele olhar tivesse o poder de desvendar mistérios. Na pequena cidade do interior paulista onde morava com a mãe e a avó, quase ninguén trancava as portas das casas, quase todos se conheciam no bairro. Doroti ia passar "ventando" pela vizinha que entrava pelo corredor, mas resolveu dar uma paradinha para cumprimentá-la e fixando nela o olhar diz: - Boa tarde , dona Joana, veio tomar um cafézinho ? Sem esperar resposta saiu correndo , com os cabelos e os vestidos...

Estela, Alegria

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- O que você deseja ? perguntou o Ancião. Um pouco titubeante, perante a majestade do Anjo, se armou de coragem e pediu: "Dê-me asas". - Não sou eu quem lhe dará, voce mesma terá de ganhá-las, ele respondeu. - Ensina-me a conseguí-las, pediu novamente e aproximou-se tanto que o Anjo Ancião recolheu as enormes asas douradas fechando-as atrás de si antes que a ansiosa Anjinha nelas pisasse. - Bem , para obtê-las deverá trabalhar numa das missões de Anjos de Guarda. Veja, no Livro, não há encaminhamento para você. É muito novinha, nem recebeu nome... e fêz menção de despedí-la. A Anjinha não se deu por vencida e rogou: "Por favor, o senhor poderia me emprestar dois pedacinhos das suas, eu pregaria nas minhas costas, eu prometo que devolverei". -Hum, e o que faría com elas ? o Anjo perguntou. -Ah... e seu semblante mais se iluminou, servíriam para eu voar. Daqui de cima eu vejo tanta gente triste no Planeta Azul, que ele já está ficando acinzentado, escure...

PRESENTE DE SORTE

Meu neto Rodrigo, de 6 anos, irrompeu pela porta da sala chamando: "Vó, vem ver o presente que eu trouxe pra você". Me entregou um minúsculo vasinho cheio de terra e sementinhas embrulhadas. Li no rótulo, trevo de 4 folhas. Isso aconteceu em janeiro de 2006, quando ele chegou com o meu filho e a irmãzinha em viagem de férias. Mal dando tempo para os cumprimentos me puxou pela mão em direção à área de serviço. "Vamos plantar as sementes..." Cuidadosamente ele espalhou-as, apertando-as dentro da terra com os dedinhos, sempre me ensinando: "Faz assim, vovó". Regou-as durante 15 dias e antes de ir embora pôde apreciar os delicados raminhos que já brotavam. "Em julho eu volto, enquanto isso você toma conta". Os trevos foram brotando em profusão, o vasinho ficou tão bonito que eu decidi coloca-lo no centro da sala . Em novembro, recebi a visita de uma amiga. O vaso chamou-lhe a atenção e aproximou-se dele. Orgulhosamente eu comentei : "Ganhei d...