Mãos

A bela senhora atravessou a rua. Já na calçada, vê o simpático homem que lhe vem firmemente ao encontro.
- Maria como vai ?
- João, querido amigo, que surpresa agradável. Não nos vemos há muitos anos !
Abraçam-se , com espontaneidade de amigos antigos.
-Continuo a trabalhar no exterior. Estava tão saudoso que decidi aproveitar uns dias da minha viagem de negócios para vir rever minhas raízes. Foi ótimo encontrá-la. Que tal fugirmos deste barulho e conversar mais a vontade, tomando um cafézinho ?
Ela aceita o convite. Entram numa agradável cafeteria. As mesas estão cobertas com toalhas de renda e os pães, bolos e doces expostos estimulam a intimidade, a cheiros de infância e de café com leite em família.
Aquela atmosfera peculiar e apropriada, estimulou a velha amizade que floresceu. Trocam confidências de ontem e de hoje. Vão relembrando sonhos adolescentes sonhados juntos , tristezas divididas, alegrias compartilhadas...
Os últimos raios de sol descem no poente. Chega a hora da despedida. Ele toma com carinho as mãos que ela estende naturalmente. Pousa nelas um olhar brilhante, de apreciação.
Repentinamente, Maria recorda um tempo em que suas mãos eram elogiadas pela beleza das formas, o que a fazia mantê-las muito tratadas, imaculadamente brancas, unhas sempre manicuradas. Suas mãos já não tão jovens nem tão tratadas estavam sendo contempladas por quem conhecera a sua vaidade.
Sorrindo, como a pedir desculpas, fala timidamente :
- Já não são as mesmas...
João aperta-as com mais força entre as suas e responde :
- Hoje estão mais bonitas. Através delas eu sinto o toque da sua personalidade e consigo identificar a força do seu trabalho.
Mais uma vez o destino os separa. Seguem em direções diferentes.
Tarde da noite, Maria ora para dormir. Mentaliza o encontro e as últimas palavras do amigo. Nunca pensara nas mãos daquele modo, como seus poderosos instrumentos de trabalho, retrato de tantas vivência. Agradecida, une-as fervorosamente ao peito.
Alguém entra no quarto
O amor lhe invade o coração, aquecendo as suas mãos. Afaga a cabeça do seu filho que lhe dá um beijo de boa noite. Pensa :
Benditas sejam !

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